quinta-feira, 12 de março de 2009

Além do Naked Bike

Existem mundialmente formas e mais formas de se mostrar o uso de bicicletas no meio urbano.
Uns optam por apoiar, outros optam simplesmente por estarem lado a lado dos carros nas cidades.
Por uma análise inicial, até então não vemos muitos problemas... Porém, o que talvez fique escondido em linhas, ou teorias burguesas de “vamos pedalar para mudar o mundo”, é que o custo é muito alto.
Na semana retrasada eu estava conversando com um talvez futuro engenheiro de alguma política pública voltada ao transporte na cidade de São Paulo – certamente um desses burgueses que estudaram o que seus pais ordenaram, e não sabem agora o que fazer agora com o diploma, e acham “bonitinho” ter uma bicicleta limpinha.
Na verdade, a teoria que ele defendia, era exata e justamente uma teoria meio que padrão de grande parte daquilo que enxergamos hoje como “ciclistas” das grandes cidades.
É triste saber que a maioria apenas adota a bicicleta e a luta por trás do uso dela, por talvez não terem sido aceitos nos Partido Comunista de suas cidades natais.
O fato é bem simples nesse linha de raciocínio. Prega-se a “Paz no Transito”, a limpeza do ar, o exercício físico, a liberdade!
Esses são alguns dos argumentos básicos e cá entre nós, argumentos tentadores e certamente convidativos àqueles carinhas que estão desenvolvendo alguma atividade de alta lucratividade e destruição para os demais setores da sociedade e do meio ambiente. De alguma forma, eles devem se redimir perante a sociedade.

“Eu destruo a minha sociedade inteira com as práticas da minha semana, mas às sextas eu tento salvar um pouquinho disso tudo!”

Desta forma, além de estarmos lidando com verdadeiros tapados, acabamos percebendo nitidamente que a proposta é apenas defendida por outros interesses.
A “Bicicletada” é um movimento que é conhecido no mundo inteiro. Mas não é raro (não mesmo!) você encontrar fumantes que acendem seus cigarros no meio da manifestação. (Estamos lutando por o que mesmo? Ar puro? Ahhhh entendi!). Ou então, que saem de suas casas com seus carros luxuosos, aos finais de semana, para se entupir de gordura cadáveres (oooppsss... acho que alguns conhecem isso como carne, talvez) seus estômagos. “

“E sobre o que mesmo que estávamos focado? Praticas saudáveis? Hummm interessante, mas acho que eu prefiro só me envolver um pouquinho nisso tudo. Quero me envolver até onde é festa... até onde é divertido. Me envolver à partir do momento que a luta passa a ser política? Ahhh isso não! Por favor... deixe isso pra lá! Eu quero é ter outros amigos além daqueles chatos do escritório.”

E é assim! É justamente ASSIM que nada e absolutamente nada vai mudar!
O que talvez conhecemos hoje como “Bicicletada”, encarada de uma forma séria ou pelo menos deveríamos encarar de uma forma séria, principalmente quando ela acontece em uma das mais importantes cidades da América Latina, é nada mais do que uma reunião de amigos e centro de exposição de idéias meramente reformistas acerca de bicicleta e trânsito.
Porém.. o buraco é mais embaixo... Existe sim a parte política. Existe sim a resistência. E existem sim os outros argumentos.

Ahhh sim.. lembrei! Aquela minha tal conversa com o carinha que vai receber R$ 12.000,00 por mês trabalhando para a CET (será que ele ainda vai se preocupar em sair de casa com sua bicicleta limpinha?), para estar “planejando” o tráfego nas grandes cidades.
Então... eu estava expondo algo que eu tenho percebido muito ao longo de alguns anos no asfalto.
Sabe... talvez a recente morte de uma ciclista tenho sido crucial para que algumas coisas começassem a mudar em mim.
Enquanto eu vi muitas lágrimas... manifestações... repúdio ao motorista que assassinou mais uma ciclista, eu fiquei refutando algumas idéias acerca do uso de bicicletas em meio ao trânsito.
E sabe onde eu cheguei?
Eu, que hoje tenho lá os meus vinte e poucos anos, passei por algumas fases, inclusive de percepção sobre a minha postura.
Já tive a minha fase pacifica, sabe?

“Bom dia senhor. O senhor sabia que quase me matou na esquina ali atrás?”

A resposta, em grande parte das vezes era:

(...)

Nenhuma... até porque o motorista apertava o botãozinho do seu luxuoso carro importado e fechava o vidro... talvez ele estivesse pensando: “Ihhh lá vem mais um daqueles hippies que quer me falar sobre o que eu fiz de errado”
(coitado dele... talvez ele tenha sido apenas um idiota filho da puta – desculpem o termo - que viveu a vida inteira pisando na cabeça de outros para chegar onde chegou, e realmente, eu entendo que ele deva estar bem cansado de saber que os erros dele já são bem vistos pelos outros...)
E de fato, sabe?
Depois eu comecei a pensar...
“Caramba... o cara quase me matou, e eu fui ser gentil com ele? Espera um pouco... que valor eu estou dando a minha própria vida? Sinceramente se um cara me ameaçar, eu vou lutar para sobreviver àquilo! E porque mesmo eu estou sendo gentil?”
Enfim... infelizmente, talvez a violência só nos atinja quando ela acontece com nós mesmos, ou tão próximo, que é impossível não enxergar!
E assim foi. Tanto que hoje... apesar de já ter incentivado muitas... mas muitas pessoas ao longo da minha curta vida, a pedalar... não seria capaz de convidar o meu pior inimigo a estar do meu lado nas ruas de uma cidade grande, como São Paulo, por exemplo.
Eu sei que esse meu sentimento de “pai” acaba se estendendo aos que eu realmente amo. Mas o meu sentimento pela VIDA não faria com que esse meu inimigo, estive em risco eminente de morte!
E sabe? Fundamentei uma teoria, com base em algumas leituras de alguns sociólogos, dentre eles, um de nome bonito... ele chamava-se Eduardo Não Sei Do Que.
Ele escreveu um artigo e talvez tenha sido esse artigo que tenha me feito refletir a ponto de desenvolver algo que hoje, é o que falo.. é o que divulgo.
Em contra partida, é lógico... os meus argumentos são de confronto àquele carinha que quer trabalhar na CET para viabilizar meu transporte entre os carros:
“Ahhh nós temos que educar o trânsito. Nós temos é que criar uma via de diálogo entre motorista e ciclista e conviver em Paz no Trânsito!”

Sabe... Que se dane essa Paz!
Uma coisa que talvez hoje seja extremamente clara é que não existe PAZ no trânsito... e na verdade, visualizo que isso nunca vá existir, de fato!
É simples o raciocínio: Pegue um saco de plástico (tente reciclar antes ou depois! Afinal.. temos que ser conscientes... não são só em um setor, né?)... não.. não.. pegue um de pano!
Então.. dentro desse saco de PANO, coloque uma lâmpada. Sabe? Uma lâmpada comum.
Coloque-a cuidadosamente no saco. Pegue então, uma pedra, mais ou menos, ou um pouco maior do que a lâmpada e coloque cuidadosamente no saco.
Pronto. Saia da sua casa (ou escritório) e vá dar uma volta na rua... fique com esse saco pendurado no braço durante algumas horas do seu dia.
Pois bem... conclusões:

01 - Quer entender o que é a vida de um ciclista no trânsito?
Vamos lá... sabe a lâmpada que você colocou dentro do saco? Pois bem... o ciclista é a lâmpada. E... já que você deve estar curioso para saber o que aconteceu dentro do saco... vamos lá, abra o saco e.... NOSSA!!! A Lâmpada esta quebrada? Hummm sim, você perdeu uma lâmpada, amigo! Desculpe... esqueci de dizer que você poderia usar uma lâmpada já queimada... enfim.. cada qual com o seu prejuízo, ok? (risos..)
Portanto... TENSO! A vida de quem pedala é TENSA! A todo momento... a todo instante... a cada fração de segundo, você pode, através de um descuido seu ou do motorista... MORRER!

02 – Não se mistura!
Não existe forma amigável de misturar carro e bicicleta! Nós não temos que estar no meio dos carros, da mesma forma que não se mistura pedestre e ciclista! Nós não temos que estar nas calçadas! Da mesma forma que os carros representam risco eminente para os ciclistas. Nós, ciclistas, também somos riscos para os pedestres (eu mesmo já atropelei alguns. Dentre esses casos, um foi para o hospital, e sei lá o que aconteceu com o rapaz que foi vitima da minha falta de prudência. Mas eu juro... eu estava na minha.... Hummm.. onde eu estava? Putz! Acabei de perceber que eu não tenho espaço nas ruas! Enfim.. eu estava errado de qualquer forma, então..).
Carro usa as ruas... Pedestre usa a calçada... Ciclista usa a CICLOVIA!
E nisso eu estou bem fechado ultimamente!

Na semana passada, durante um ato em solidariedade aos direitos das mulheres, eu estava meio atrasado para uma prova... Saí correndo com minha bicicleta. Eu estava consciente do que estava fazendo, mas mesmo assim, uma senhora de certa idade gritou para mim: “Calçada não é lugar de ciclista!”
Eu passei muito distante dela! Muito mesmo.. mas mesmo assim, ela fez questão de expor o seu lado.
Bom.. eu, na minha pressa, acabei simplesmente gritando: “Desculpa senhora! Mas o Kassab ainda não fez a minha ciclovia!”
Mas eu realmente queria ter parado, para talvez gritar com ela, da mesma forma que ela gritou comigo:
“Escuta aqui senhora! Primeiro... porque você esta falando isso para mim? A senhora já parou para pensar então qual é o MEU lugar? Onde eu devo estar? Arriscando a minha vida no asfalto, enquanto a senhora fica na segurança da sua calçada? Eu quero é mais que a senhora se sinta cada vez mais ameaçada com esses ciclistas “malucos” que quase atropelam - e algumas vezes conseguem(!!) - pedestres nas calçadas... porque desta forma, talvez o movimento que vai pressionar o Estado a pensar na minha ciclovia, seja agora um pedido não só meu... mas da senhora também!”
E em outra ocasião, apenas para citar o outro lado... foi quando um motorista de ônibus quase me assassinou.
Isso aconteceu dentro da Cidade Universitária (USP), em São Paulo.
Não houve diálogo e aconteceu que, o motorista me viu de longe, mas mesmo assim jogou o ônibus em cima de mim! Ou seja, claramente tentou me matar. Porém, eu estava em um dia tranquilo.. estava cansado. Queria chegar em casa e dormir. Mas talvez ele não tenha gostado de eu tê-lo chamado de “imbecil”. Eis que o mesmo, mais a frente, me fechou e parou o ônibus, que estava cheio de estudantes.
Todos, de dentro do ônibus, assistindo, começaram a gritar que o motorista era um idiota por ter feito isso. (talvez porque alguns estudantes da USP se solidarizem com a questão do uso da bicicleta no meio urbano). Porém, o motorista, que talvez estivesse nervoso por qualquer outro motivo particular, fez questão de descer do ônibus e querer vir “tirar satisfações” olhando nos meus olhos.
O cara era grande, mas não era dois, de fato.
Eu, sentado na bicicleta pensei: “Bom.. vamos ver o que ele quer conversar comigo!”
Eis que ele se aproximou... começou a gritar comigo... falou que o asfalto não era lugar de bicicletas (e sim.. no fundo o canalha estava certo! Isso pelo menos mostrou que ele pensava um pouco!)... mas ele começou a exagerar um tanto. Começou a se aproximar mais. Até então eu estava ouvindo apenas. Não cheguei a discordar dele, até porque eu mesmo concordava com ele.
Mas ele começou a apontar o dedo quase encostando no meu nariz. E começou a ter um discurso mais inflado.
E conforme ele mesmo crescia na raiva que ele mesmo gerava... mais os estudantes gritavam e mais eu calmamente vestia meu soco inglês, com as mãos nas costas (para ele não ver o que talvez o esperava!)
Eis que do nada, ele fez um movimento jogando uma das mãos para trás... e nesse momento eu pensei: “Opa... acho que ele vai me dar um soco... e talvez esse soco tenha por objetivo o meu rosto. Droga viu!”
Enfim.. de fato aconteceu. Mas como o cara era grande e meio gordo, tão logo... meio lento. E nesse segundo, eu consegui colocar meu rosto para trás, fazendo com que a não dele conseguisse atingir somente meus óculos.
Newton estava certo em suas proposições. “Toda ação... equivale a uma reação!”
E na verdade, amigos... eu não estava nem um pouco disposto a contrariar umas das mais famosas e letais leis da física universal.
Portanto... Um soco na cara, equivale um soco na cara!
Porém, eu errei em duas coisas:
01 – Eu não acertei o rosto de dele. Acertei a testa!
02 – Eu estava de soco inglês.
Conclusão... o cara simplesmente lavou a minha mão com o sangue dele.
Sabe... eu sempre treinei algumas artes marciais de contato. Gosto. Principalmente daquelas que conseguem trabalhar corpo/mente/espírito.
Eu sempre treinei e usei o soco inglês, não para acertar o rosto de alguém... porque sei o estrago que faz... Mas sempre tentei me regrar a acertar outras partes do corpo que são igualmente efetivas, como o osso externo, que se localiza na parte frontal do peito. Ou seja, um soco bem dado ali, derruba qualquer um. E com soco inglês ainda... hummm machuca, além de derrubar!
Mas foi meio que instintivo dessa vez. Eu cheguei a olhar para o peito dele, mas talvez pelo motivo que ele tenha me colocado naquela situação, eu mirei no peito, mas meu punho foi na testa!
Ele cambaleou um pouco, mas foi o suficiente para o ônibus se calar por completo e ele voltar igual um cãozinho molhado para dentro do coletivo.
Não vou dizer que ele saiu correndo de mim, entrou no ônibus e acelerou... porque senão ficaria parecendo que ele desceu cheio de moral, apanhou e fugiu (e o que talvez tenha sido pior, é que isso foi visto por umas 25 pessoas que assistiam os fatos de camarote)
Mas enfim... eu ainda estava agora com muita vontade de fazer com que o motorista fosse embora o mais rápido para algum hospital, ou sei lá para onde.
Então.. resolvi dar a noite de folga para ele:
Ele seguiu com o ônibus pela avenida, mas para sorte ou azar dele, o primeiro sinal fechou...
Eu confesso que ainda estava com uma sede de vingança que esquentava muito muito sangue...
Enfim... talvez ele nunca mais vá se esquecer de mim. Aliás... talvez ele nunca mais se esqueça dos ciclistas.
Passei do lado do ônibus que estava parado no sinal, e aproveitando que ainda estava com o soco inglês vestido entre os dedos, enfiei metade do meu braço no pára-brisa do ônibus... o vidro se estilhaçou em milhões de pedaços... (talvez igualzinho à lâmpada que você colocou no saco com a pedra, lembra?)
Virei a primeira rua na contra mão... e sumimos um do outro.
Ali terminava mais uma história de como não existe mais diálogo quando estamos misturando duas coisas tão heterogêneas.
E sim... aquele tal carinha lá do inicio da história, lembra? O futuro engenheiro de tráfego?
Pois bem... ele ainda tentou me vender a idéia de que é preciso respeito. E que devemos compartilhar e não dividir... e todo aquele blá, blá, blá utópico de ruas floridas e pessoas caminhando felizes e que não existam mais limites entre o asfalto e a calçada e que todos possam dividir o mesmo espaço... o mesmo mundo!
Lindo isso né?
Mas penso ser bem romântico para o clima de SP!
Enquanto estamos sonhando com coisas floridas e coloridas e pessoas sorrindo numa tarde de sol na Av. Paulista... existem muitos ciclistas no asfalto ou nas calçadas pingando suor, e alguns... pingando sangue!
Temos que segregar SIM!
Temos que ter o nosso espaço! Temos que ter a nossa VIA!
Acidentes vão estar fora de cogitação?
Em hipótese alguma! Ainda acredito que vamos passar a ter acidentes envolvendo ciclistas! Mas a partir do momento que tivermos o NOSSO espaço... se algum ciclista maluco ainda assim quiser se arriscar entre os carros... que assuma os próprios riscos!
Mas dessa vez, poderemos dizer que o errado, era o ciclista! Porque ele agora tem o seu lugar, mas estava fora dele!


Ahhh sim.. o titulo né??
Bicicletada pelado! (risos..)
Vamos chamar atenção para que? Para bicicletas no asfalto?

Ahhh que divertido!