terça-feira, 20 de outubro de 2009

Entrevista

1. Qual Seu nome e idade?
A. A. H. A. – 29 anos
2. Há quanto tempo é vegan?
Desde 01/01/1999
3. Por que escolheu esse tipo de alimentação?
A escolha por uma alimentação condizente com a Libertação Animal foi para mim apenas um fator de aproximar ainda mais as minhas práticas das minhas teorias.
4. No que consiste a dieta Vegan e qual a diferença entre os outros tipos de vegetarianismo.
Antes de tudo, eu não enxergo o Veganismo como dieta. O individuo que adota o veganismo o faz por oferecer publicamente práticas cotidianas de Libertação Animal. E isso TAMBÉM inclui a alimentação, mas não esta nem sequer focado nela, visto que a Libertação Animal envolve diversas outras práticas, que talvez não sejam nem sequer “moldáveis” a uma nova visão ética em relação aos animais, mas sim apenas como fruto de atitudes coerentes em relação a todos.
O Veganismo se difere dos demais “ismos” vegetarianos, justamente pelos princípios que os norteiam. Vegetarianismo é dieta. Veganismo é Luta pela Libertação Animal. Simples assim... Um vegan segue uma dieta vegetariana ortodoxa, ou seja, pura. Mas nem sempre um vegetariano luta pela Libertação Animal. A adoção de uma Dieta Vegetariana pode se dar por vários motivos, dentre eles, desde saúde te por questões éticas.
5. Qual o maior beneficio em ser Vegan?
Não consigo enxergar nenhum benefício diretamente pessoal em ser ou não ser Vegan. Um Vegan não é melhor do que ninguém, assim como ninguém é melhor do que um Vegan. Por se tratar de um rótulo auto aplicável, o veganismo, acredito eu, acaba sendo e trazendo muito mais benefício aos animais do que em relação ao indivíduo. Porém, certamente o Veganismo acaba se aproximando e muito, em sua maioria, de práticas sociais saudáveis, como uma boa alimentação do individuo que opta pelo veganismo como conduta de vida, a distância do uso de álcool e outras drogas socialmente degradantes. E dentro desse processo, de uma forma secundária, um Vegan ainda acaba, além de ter uma postura ética para com os animais, tendo uma postura ética em relação a tudo que o cerca.
6. Qual a deficiência que esse tipo de alimentação pode causar ao organismo?
Absolutamente nenhuma. Existem casos, obviamente, de vegans que possuem problemas de saúde. Mas isso sempre é ocasionado por algum mal acompanhamento alimentar do indivíduo em relação à sua nutrição. O Veganismo mexe em uma prática diária de alimentação. E desta forma, assim como qualquer outra pessoa que por motivos diversos necessitem alterar seus hábitos alimentares, estão sujeitos a sofrerem alguma disfunção nutricional por conta, geralmente, de má orientação e de má informação. Tendo um razoável acompanhamento e uma boa fonte de informação, o veganismo e a dieta vegetariana ortodoxa, que o veganismo pressupõe, tende a ser ideal ao ser humano.
7. Que tipo de acompanhamento é necessário ter para se tornar um Vegan?
Como dito anteriormente, ter um razoável conhecimento já é o necessário para manter-se bem nutrido com a dieta que um Vegan aplica no seu dia a dia.
8. Você se relaciona com pessoas que não sejam vegetarianas?
É inevitável não existir um distanciamento que eu particularmente julgo “natural” em relação a pessoas que não sejam vegetarianas, ou mais afundo, vegans. Porque geralmente são pessoas que mantêm atitudes e pensamentos bem diferentes, e em alguns casos bem específicos, até conflituosos. Fazendo, portanto, com que “naturalmente” você se aproxime de pessoas com a mesma vibração que a sua. Mas isso, eu acredito ser normal em qualquer situação social. Se eu gosto de música sertaneja, eu vou acabar me aproximando mais de pessoas que gostam de música sertaneja, por exemplo.
9. Qual a historia do Veganismo no Brasil e no mundo?
Boa pergunta! Eu diria que o Veganismo ainda esta começando a ser história no Brasil. Atualmente existem duas correntes internas que acabam disvirtuando um pouco o veganismo do que ele realmente é. O Veganismo, adotado, aplicado e entendido como Luta pela Libertação Animal coloca o indivíduo que adota a terminologia como bandeira de luta e faz dessa bandeira, algo concreto e uma razão plausível por aquilo que se possa lutar. Porém, existe uma corrente bem recente que esta assimilando o veganismo pura e simplesmente como algo que esta somente substituindo a terminologia “vegetariano puro” e colocando o veganismo em apenas mais uma classificação dietética.
Desta forma, o que se pode ver no Brasil, é o crescente número de manifestações e organizações crescendo e se articulando para lutar de diversas formas pela Libertação Animal. A pluralidade que hoje vemos com a existência de muitos grupos distintos entre si, porém com um mesmo objetivo reflete o inicio de uma longa caminhada, que é alcançarmos a Libertação Animal, seja ela humana e não humana.
No mundo, a história já vem sendo escrita desde algum tempo. Poderia citar como País precursor e talvez responsável por fervilhar primeiramente essas questões éticas aplicadas a sociedade ocidental, a Inglaterra. Não só por ter sido o país que cunhou o termo Vegan, quando em 1944 formou-se então a Vegan Society, justamente por atrelar a parte ética em relação à visão aos animais não humanos. Mas também por ter sido um país de vanguarda nas leis de proteção dos animais. Desta forma, Estado e sociedade começaram, desde muito cedo a caminhar praticamente juntos. A sociedade cobrava do Estado algumas soluções e o Estado avançava com Leis e regimentos proibitórios de crueldade contra os animais. Insta ressaltar ainda que foi no Reino Unido os primeiros registros de grupos organizados que lutavam pelos direitos dos animais a serem contundentes e seriamente interpretados pelo próprio Estado.
10. Quantas pessoas praticam essa alimentação no Brasil?
No Brasil ainda não existem estudos que demonstrem tais números, mas é comum ouvir boatos de que 1 em cada 20 Brasileiros se assumam vegetarianos ou ligados a alguma vertente do vegetarianismo, como o ovo-lacto-vegetariano ou o lacto-vegetariano.
11. Quais são os aspectos políticos, religiosos, espirituais e psicológicos dessa alimentação?
Á partir do momento que o Veganismo é interpretado e visto como Luta, ele automaticamente esta ligado a todo e qualquer movimento político da história da humanidade.
E o que norteia tal princípio são talvez a mesma visão ocidental de Luta enxergada como Liberdade daquilo pelo qual se luta.
O veganismo é tão grande, que também pode ser assimilado e adotado como por outros princípios, como os religiosos. Talvez o mais importante deles, e também o mais conhecido aqui no Ocidente, seja o princípio da “Ahimsa”, ou princípio da Não Crueldade, seja ela ofertada a qualquer ser vivo.
O vegetarianismo e não o veganismo também é buscado por uma série de religiões, por esse mesmo princípio, só que vistos de formas individuais em cada religião. Em algumas o vegetariansmo é simplesmente adotado por ser a única dieta que te mantêm distante de alimentos provenientes da morte de um animal com consciência de dor, desta forma, interpretado como uma dieta que purifica a alma e enobrece o espírito para as práticas devocionais divinas.
Aspectos psicológicos geralmente estão ligados a visão individual daquele que se enxerga na Luta pela Libertação Animal. Desta forma, geralmente a forma com que o indivíduo atuará pela Libertação Animal é apenas reflexo de como o indivíduo enxerga soluções para os problemas ali identificados.
Eu, particularmente, já me envolvi em alguns estudos para traçar um perfil de quem tem uma tendência a lutar pela Libertação Animal. Ainda não conclui muita coisa, mas existem espécies de “padrões” a serem observados. Geralmente pessoas que se aproximam da Libertação Animal são pessoas que se enxergam ou se enxergaram em situação conflituosas de violência. Como eu disse, isso não é nada acadêmico ainda, mas essa aproximação tende a ser ética/racional ou o seu extremo oposto, sentimental, entrando, portanto, toda aquela hipótese de enxergar-se no animal a violência que outrem praticara contra o individuo.
12. Você sente algum tipo de preconceito em ser Vegan?
Atualmente não. Mas há 10 anos atrás, não comer carne, ou rejeitar um bolo da minha sogra porque ele fora feito com ovos era um completo absurdo. Eu costumo dizer que “há 10 anos ser vegan é ser habitante de algum outro planeta. Hoje, ser vegan continuamos a ser habitantes de um outro planeta, mas pelo menos, somos habitantes de um planeta já mais conhecido”.
Eu particularmente não me sinto vítima de qualquer preconceito, mas uma ou outra piadinha ainda ouço. Mas isso depende muito da forma com que você se relaciona com isso tudo. Se você entrar na brincadeira, talvez seja difícil encontrar um limite... Mas se na primeira tentativa existirem argumentos contundentes, acredito que as pessoas que estão próximas e até mesmo a sociedade como um todo, acaba por perceber mais o objetivo da negação de um bife, ou de um tênis de couro, ou um produto testado em animais.
13. Qual a maior dificuldade em ser vegan ?
Dar o primeiro passo! Ou seja, estar diposto individualmente a abrir os olhos sinceramente, e enxergar a forma com que nós, humanos, estamos nos relacionando com o universo. Ser Vegan é perceber essas mínimas relações. É entender que não existem diferenças entre a vida de uma formiga e a de um ser humano. A de um feto e a de um bezerro. A de uma vaca com a de um coelho.
O veganismo dorme em todos nós. Basta acordarmos para isso.
Qualquer pessoa que esteja disposta a dispensar 5 minutos de sua vida para pensar em como estamos nos relacionando com o meio em que vivemos, vai certamente atravessar as cortinas que escondem os bastidores de coisas tenebrosas que praticamos, e que muitas (e muitas mesmo!) vezes nem percebemos.
Essa prática faz e fará com que toda a sociedade se enxergue suja de sangue de Inocentes. E isso, quando percebido, só dá ao indivíduo uma saída: A mudança!