quarta-feira, 16 de março de 2011

El día de la bestia

Pois é...
Algo de muito estranho aconteceu no Brasil... mais alí na parte sul.
Não vou dizer que não, mas nós provocamos isso também.
Sabemos ser mais vagarosos quando queremos. Sabemos tirar qualquer um do sério...
Porém, isso ainda é visto como uma forma de protesto.
Deixamos a situação chegar num limite que um dia ou outro iria explodir.
Quando optamos pelas formas pacificas (estatais) de manifestação, era quase que como armar uma bomba relógio pronta para explodir a qualquer momento.
e BOOM!
Chegado o grande dia.
Uma omelete precisou ser preparada com apenas doze ovos.
Doze ciclistas foram brutalmente e conforme mostram as imagens, propositalmente atropelados por um Zé qualquer.
Um "Zé" porque não é uma pessoa sem rosto, tan pouco uma pessoa muito especial.
Mas uma pessoa qualquer. Um motorista de um carro qualquer, em um dia qualquer... em uma cidade qualquer.
Não foram os doze ciclistas sentenciados à morte dentro de uma guerra que não é de hoje eu venho dizendo ser "injusta".
Não há razão, principalmente em minha palavras, para encarar um caso como esse apenas como um fato isolado.
Talvez eu realmente não fale para todos os ouvidos, ou escreva para todos os olhos lerem, mas de fato não foram doze o número de vitimas. E não foi aquele motorista o vilão de toda história.
A história nos mostra que as coisas passam a tomar forma quando os dois lados de uma mesma moeda passam a ser iluminadas.
Tudo costuma ter um limite... tudo costuma ter um ponto clímax... e um ponto final também.
De longe eu não entendi porque não li noticias de represálias...
Não entendi como a casa não foi queimada... 
Como não arderam veículos durante uma madrugada silenciosa de uma cidade qualquer.
Sinto talvez a revolta de ter sido atropelado naquela dia. De ter sentido a opressão de perto, bem ali, enquanto estava pedalando e veio um carro por trás e levou talvez uma certa alegria de estar participando de um "ato político".
Mas não me senti respaldado por um Estado que teima em não sentar para ouvir.
Não senti as leis serem cumpridas e acima de tudo... não senti confiança naqueles todos outros que acreditavam ou acreditam que o tal tipo terá uma sentença justa.
Quando nos manifestamos, é para propor uma forma direta ao Estado... Mas as leis quando são oprimidas, talvez ainda fique a sede de não entregar ao Estado esse poder. Da mesma forma que ele (o Estado) não se importa muito com a minha vida, é um pouco incômodo pensar que ele seria o mais indicado à julgar...
e acima de tudo... o mais indicado para dizer que isso tudo vai parar.
Sabemos que temos as nossas próprias leis... quem esta dia-a-dia no asfalto sabe exatamente que não basta termos um capacete e uma certa prudência...
Sabemos o que sentimos quando somos encurralados como gado na sargeta.
Sabemos que a rua... que o asfalto brilha sob nossas rodas... e que ali, e talvez tão somente ali, somos soberanos de nossas proprias vidas.
Alí montamos nossas estratégias para permanecer ativos (ou seja... vivos) em mais um dia de trabalho... ou de simplesmente vida.
A rua dita suas próprias leis... suas próprias ordens. E sabemos que uma pedalada no caminho da dúvida pode simplesmente custar-lhe a vida.


Não começou na Paulista, com a jovem atropelada e morta... Não há de terminar em Porto Alegre, com os doze feridos.

A guerra esta contida no asfalto. Os limites são as calçadas. 
Uns ainda creio que vão teimar em não ver as armas. Mas creio ainda que outros já sabem quando e onde a justiça deve ser aplicada.

Mais um dia no asfalto. Mais um dia eu sobrevivi.... e estou aqui para contar-lhes um pouco do que significa estar sobre rodas não motorizadas em uma grande cidade.